Família pede Justiça no 1º dia de julgamento de policiais acusados por três mortes no AC: 'Tiraram uma vida muito preciosa', diz pai de vítima
04/12/2024
Pelo menos uma testemunha foi ouvida na manhã desta quarta-feira (4). Quatro sargentos e um major da PM são acusados de matar Maria Cauane, Gleiton Silva Borges e Edmilson Fernandes da Silva Sales em maio de 2018 durante uma operação no Preventório, em Rio Branco. Júri começou nesta quarta-feira (4)
Junior Andrade/Rede Amazônica Acre
A família da menina Maria Cauane, de 11 anos, compareceu ao primeiro dia de julgamento dos PMs acusados pela morte da criança e outros dois adultos para pedir Justiça. O júri começou por volta das 8h desta quarta-feira (4) e ouviu pelo menos uma testemunha.
"Não só eu, como toda a minha família, esposa, meus filhos, irmão dela no caso, a família inteira, [espera] por justiça. Aqui nós estamos clamando por justiça, que a justiça seja feita, que eles paguem porque eles tiraram uma vida muito preciosa. Para eles não pode ser, que não era nada deles, mas para nós e para Deus, ela significava muito para nós, e aqui na Terra", declarou o pai da menina, José Carlos da Silva.
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Além de Maria Cauane, Gleiton Silva Borges e Edmilson Fernandes da Silva Sales morreram durante uma operação policial no bairro Preventório, em Rio Branco, em maio de 2018.
O júri popular dos quatro sargentos e um major da PM-AC ocorre na 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco, no Fórum Criminal, Cidade da Justiça.
Conforme apurado pelo g1, foram intimadas cerca de 47 testemunhas, sendo 18 de defesa e 29 de acusação, e os acusados, que aguardam o julgamento em liberdade.
Três pessoas foram mortas durante operação do Bope em maio de 2018
Arquivo pessoal
Veja quem são os militares:
Josemar Barbosa de Farias - major da reserva
Wladimir Soares da Costa - 2º sargento
Raimundo de Souza Costa - 2º sargento
Antônio de Jesus Batista - 3º sargento
Alan Melo Martins - 3º sargento
Maria Cauane foi morta aos 11 anos
Arquivo pessoal
O pai de Maria Cauane lembra ainda a última vez que conversou com a filha. Segundo ele, a menina havia acabado de chegar da escola e trazia um salgado. Ele pediu um pedaço, e a menina brincou, dizendo que ele queria comer todo o alimento. Depois, trocou de roupa e saiu para brincar com amigos, de onde não voltou mais.
"Eles destruíram o sonho da minha filha de ser médica. Ela disse que ia ser médica para ajudar essas pessoas, e eles destruíram [o sonho]. Ela só tinha 11 anos, não tinha nada envolvido, era só uma criança que queria viver, e eles acabaram com esse sonho", acrescentou Silva.
Pai de Maria Cauane diz que morte destruiu sonho da menina de ser médica
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Tese da defesa
O advogado Wellington Silva, que comanda a defesa dos PMs, rechaçou as acusações que pesam contra os réus, e afirmou que o júri se trata de um "show de pirotecnia" montado pelo Ministério Público. Ele afirmou que o objetivo das famílias é conquistar ganhos financeiros às custas do Estado.
"Percebe-se muito claramente que essas pessoas ajuizaram a ação contra o Estado, ações milionárias, buscando realmente um proveito financeiro com toda essa situação. É lamentável que a morte de uma criança tenha sido utilizada como pano de fundo para que as pessoas tenham proveito financeiro. Uma instituição tão séria quanto o BOPE e a Polícia Militar tenha sido desacreditada por conta de falácias e mentiras que estão sendo sustentadas até o dia de hoje", afirmou.
O defensor acrescentou ainda que confia na absolvição dos PMs e que há provas técnicas nos autos que mostrarão que os réus são inocentes.
"Então, nós estamos absolutamente tranquilos com relação às teses que iremos sustentar, no mínimo em três dias de julgamento, talvez perdure até por mais tempo", disse.
Dor e humilhação
Marlene Paula de Araújo diz que foi humilhada por PMs
Reprodução/Rede Amazônica Acre
"Minha filha, pra mim, era tudo na minha vida. Não que os outros não sejam, mas a minha filha era minha amiga, minha companheira. E eu esperava que ela ia cuidar de mim, até mesmo na minha velhice".
A frase é de Marlene Paula Araújo, mãe de Maria Cauane. Para ela, a morte da menina representa um momento de humilhação e dor. Isto porque, segundo ela, após receber a ligação que comunicou a morte da menina, ela foi até o local e foi intimidada pelos policiais.
"Eu fui humilhada por aqueles policiais, eu quase nem saía pra ir lá onde tava a minha filha já morta dentro dessa rua. Eles falaram que não era pra mim sair. 'Não saia, não saia', falando o maior palavrão comigo. 'Ninguém entra, ninguém sai', eles falavam desse jeito. Espero justiça", contou.
Acusados
Josemar de Farias, que a época do crime era tenente do Batalhão de Operação Especiais (Bope), foi condenado em junho de 2021 por integrar organização criminosa e a perda da função. Contudo, como a sentença não transitou em julgado, o militar segue no quadro da PM-AC.
Em 2022, Farias foi absolvido dos crimes de peculato, corrupção passiva e prevaricação. Atualmente ele está na reserva, foi promovido ao cargo de capitão e depois a major.
Já Alan Martins também estava envolvido no acidente que matou Silvinha em maio de 2019, na Estrada Dias Martins, em Rio Branco. O carro do policial bateu na motocicleta em que estava a mulher e o marido. Os três ficaram feridos durante o acidente.
O casal ia ao supermercado fazer compras para comemorar o aniversário de uma das filhas quando aconteceu o acidente. Em junho de 2022, o juiz Alesson Braz, da 2ª Vara do Tribunal do Júri e Auditoria Militar de Rio Branco, decidiu pela pronúncia dele e o policial vai responder pelos crimes de homicídio e tentativa de homicídio em júri popular. O júri deve ocorrer em abril de 2025.
Relembre o caso
Maria Cauane, que tinha 11 anos na época, Gleiton Silva Borges e Edmilson Fernandes da Silva Sales foram mortos por agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM-AC, em maio de 2018. A menina foi atingida com um tiro de fuzil disparado pela PM.
Na época, o Bope informou que o tiroteio começou após os policiais fazerem uma operação na área e que a menina já estava baleada quando a guarnição chegou ao local.
A família contestou a informação e, desde o início, afirmou que o tiro que matou a menina partiu de um fuzil da PM, fato também apontado em laudo feito em agosto daquele ano.
Conforme o processo, um laudo balístico apontou que o tiro que matou a menina partiu da arma usada pelo policial Alan Martins.
Familiares e amigos fizeram um ato me maio de 2019 em frente ao comando-geral da PM para pedir a prisão dos responsáveis pela morte dela.
Familiares pediram justiça durante protesto em frente ao quartel da PM
Alcinete Gadelha/G1
Denúncia
A denúncia contra os três militares foi recebida pela Justiça do Acre em maio de 2019 e, na época, o pedido de prisão preventiva indeferido.
Em novembro de 2019, 15 pessoas foram ouvidas, na 1ª Vara do Tribunal do Júri durante audiência de instrução. Após essa fase do processo, o MP-AC pediu pela pronúncia dos réus, ou seja, para que fosse a júri popular.
Já a defesa requereu a absolvição sumária dos denunciados Antônio de Jesus Batista, Alan Melo Martins, Wladimir Soares da Costa e Raimundo de Souza Costa, e a impronúncia do acusado Josemar de Farias.
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Os acusados foram pronunciados a júri em abril deste ano. Na época, o Ministério Público Estadual (MP-AC) confirmou que os policiais Antônio de Jesus Batista e Alan Melo Martins foram acusados pela morte de Maria Cauane Araújo da Silva e Gleiton Silva Borges, além de lesão corporal contra duas vítimas que ficaram feridas na ação policial.
Já os policiais Josemar Barbosa de Farias, Wladimir Soares da Costa e Raimundo Costa foram denunciados pela morte de Edmilson Fernandes da Silva Sales.
Também na época, a juíza Luana Campos entendeu que Alan Melo Martins e Antônio de Jesus agiram de “forma a revidar injusta agressão acabando por matar duas pessoas e ferir outras duas e decidiu que eles deveriam ser julgados por homicídio consumado e tentando na forma culposa, “diante da negligência em suas ações”.
Wladimir Soares da Costa e Raimundo de Souza Costa haviam sido absolvidos sumariamente. Josemar de Farias, foi impronunciado na época.
O MP-AC entrou com recurso contra as decisões e o pedido foi deferido pela Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC).
Colaboraram Júnior Andrade e Vitória Guimarães, da Rede Amazônica Acre.
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